por : Samuel Celestino
O senador Walter Pinheiro decifrou uma das suas charadas, a Prefeitura
Municipal, que projetava sombras sobre as pretensões legítimas do
deputado Nelson Pelegrino, já que se admitia, sem nunca ser confirmada,
uma candidatura do senador. Como daqui já comentado, ele e a sua
tendência (corrente) dentro do PT estão fechados com o pré-candidato.
Se, para 2012, está definido o seu caminho – acelerar os trabalhos que
realiza no Senado – para 2014, eleições gerais com a sucessão de Wagner,
o quadro ainda é, para Pinheiro, enigmático. Mas nem tento.
Walter Pinheiro é candidato a governador da Bahia. Só não amplifica o
seu projeto por razões que devem ser, em políticas, preservadas: 1- Não
adiantar em nada o processo, ainda mais quando faltam dois anos e meio
para definição de candidatos; 2- Alerta que não basta o desejo de ser
candidato, mas, sobretudo, das circunstâncias, do cenário futuro, que
ainda terá que ganhar forma; 3- Estabelece como prioritários no momento
não 2014, mas o trabalho que realiza no Senado. Da sua atuação, que tem
sido intensa, ele se debruça sobre questões reclamadas pela cidadania:
integridade do CNJ, controle externo essencial ao Poder Judiciário,
reformas políticas para aprimorar as instituições e, dentre elas, de
imediato, o fim do voto secreto.
O senador está, ainda, empenhado (ao lado de Wagner) no processo de
negociação para consolidar o pólo automobilístico na Bahia. Negociam com
a Jac Motors. Não somente: o senador considera que a Bahia perdeu
oportunidades de negócios pela deficiência da infraestrutura de
transportes, dentre as quais, além da malha rodoviária, a ausência de
portos em Salvador que possam dar respaldo às empresas no setor da
exportação. O Porto de Aratu (que atende a Ford e o Pólo Petroquímico) é
isuuficiente. É necessária uma rede que possa interligar o setor
produtivo ao sistema portuário revitalizado.
Walter Pinheiro explica o atraso: para levar a produção da região de
Juazeiro ao porto de Suape, em Pernambuco, o percurso é de 700 km. Sua
idéia é revitalizar (na verdade construir) uma linha férrea de Juazeiro a
Salvador, cuja distância é menor: são 500 km. A ferrovia chegaria a
Aratu. Relaciona, também, a ampliação do aeroporto de Feira de Santana
para servir de suporte ao escoamento da produção da região.
Como todos os processos sucessórios, há confrontos. O de 2014 há um
candidato já no cenário, o líder do PMDB e ex-ministro Geddel Vieira
Lima. Entre o PMDB e o PT, no Estado, não há acordo, diferentemente da
aliança nacional, onde o PMDB é o grande partido de sustentação do
governo Dilma. O presidente da Assembléia, deputado Marcelo Nilo, do
PDT, também sonha com a candidatura e acredita em coincidências que,
segundo ele, acompanham a sua vida. Como, por exemplo, quando meteu na
cabeça, aos 10 anos, em Antas, seu município, que seria político e
deputado estadual. Outros partidos, provavelmente nanicos, como sempre
acontece, lançam nomes.
A questão está no PT, na inexistência de candidato natural. Por ora, o
mais denso é mesmo o senador Walter Pinheiro, se ele vier a ser lançado
(o tal cenário), mas já realiza um trabalho intenso no interior do
Estado. Os outros lembrados são o presidente da Petrobrás, José Sérgio
Gabrielli, cuja expressão política no Estado ficou diminuta pela
internacionalização do seu trabalho (acaba de ser homenageado em
Londres, que apenas serve para massagear o ego e não para render votos)
e a vontade expressa do prefeito de Camaçari, Luis Caetano, presidente
da UPB, que lhe permitiu contatos com os prefeitos interioranos. Moema
Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas, está circunscrita (aprisionada)
no seu município. Sua visibilidade é pouca, quase nenhuma. Quando Lula
aparece por aqui, e agora Dilma, ela é vista nas proximidades, às vezes
lado a lado, sempre sorrindo. Velha estratégia que, em outros tempos, se
chamava “papagaio de pirata”, o que não desonra ninguém. Faz parte da
arte do exercício da política.
O senador petista fala em “circunstâncias” (como sinônimo de cenário).
Creio que nesse quesito entra Jaques Wagner que, como governador,
naturalmente pesa muito. Mas não o suficiente para tirar um candidato do
bolso do colete. Por diversos motivos. O principal deles é que não faz o
seu estilo e, o segundo, é que não é Lula que construiu uma presidente.
É preciso ter uma força apoiada em popularidade inconteste.
O governador tem aspiração de articular a sua sucessão, mas não lhe
compete impor. Ficará, então, refém das tais “conseqüências” ou cenário,
que, no caso específico, pode ser traduzido, de forma popular, dessa
maneira: leva vantagem quem tiver mais farinha no saco.
Para articular, no entanto, o governador terá que se
desincompatibilizar nove meses antes do final do mandato. Pretende, por
ausência de opção para o caso, ser deputado federal. Se tal acontecer o
governo passa para o vice Otto Alencar que poderá vir a ser candidato,
tirando do PT e transferindo para o seu PSD neófito, a possibilidade de
eleger (ele próprio) o sucessor. Como o PT receberá essa hipótese,
muitíssimo viável?
Talvez Walter Pinheiro esteja também se movimentando antenado numa
alternativa para o caso de uma opção Otto Alencar, unindo o PT em torno
da sua pretensão para se opor fortalecido. Bem, neste caso (escrevo
sobre hipótese, como se observa) ou poderá haver uma união
PT-PSD-partidos da base contra o PMDB ou outra legenda que aparecer na
presunção de uma união oposicionista, ou caso contrário, haverá um belo
racha, diria uma explosão magnífica, como acontece, segundo os
cientistas, com o que se registra com as estrelas novas. São os fatos.
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